19.3.12

(sopro)

Minhas unhas estão crescendo, como nunca antes. O meu corpo se contorce quando vê a luz do sol entrar irritadamente pela janela do meu quarto. Ocupo toda a cama com roupas, comida, maquiagem. Algo com que eu possa dividir meu espaço. Tudo meu, tudo tão meu.

Eu poderia viver por uma eternidade nos sonhos que me abduzem todas as noites, ou deitada no mar branco, na minha bicicleta colorida. Isso é tão intenso. Eu vou afogar. Eu vou afogar em mim. Afogar eu mesma.

Como ressurgir para a vida por um sopro através da terra úmida que me enterrava. Sol. Sol irradiante. Tempo. Na ilha de morangos, um mosquito belisca os meus pés. Você consegue ver como os meus dedos coçam os meus próprios dedos? Enquanto eu ainda amo você – eu mesma.

Se nos permitirmos perceber que do grão pequeno de novas imagens pode-se brotar a sensação plena de libertação da vida convencional, e ver, nessa estática imagem, o quanto o mundo nos guarda coisas grandiosas e diferentes, poderemos sair finalmente de uma miopia crônica e nos afundar no surrealismo das coisas inexplicáveis que são criadas pela nossa própria vontade de continuar vivo.

(sopro)



Nenhum comentário:

Postar um comentário