12.2.11

B.

 Usar pra mostrar o que se tem para gritar
 Usar pra morder o que se tem para falar
 Usar pra se dar o que se tem para receber
Usar pra comer o que se tem para vomitar


Eu gostaria de, além de ter uma boca para falar menos e dois ouvidos pra escutar mais, uma vontade para se guardar e um desejo pra se esquecer.

1.2.11

Às dez


Meus dias se resumiram aos que eu acordava cedo, bebia um café quente e saboroso, deitava-se na cama enquanto lia Liz em Bali, escutava do quarto o barulho do arroz sendo despejado na panela e o cheiro das roupas que estavam sendo limpas na máquina de lavar; e aqueles em que acordava com o barulho da vassoura sendo batida em todos os cantos da parede da minha casa pela minha mãe. Na maioria deles, houve também madrugadas em que eu acordava com um sonho ruim, que me fazia adormecer novamente com preces à Deus
“Livrai-me de todo o mal, Amém!”
Esta madrugada acordei à uma hora por causa do calor insuportável que fazia no quarto, e deitei-me na rede para ver o céu azul marinho e frio. Às dez já estava de pé. Ainda tinha três horas para ir ao trabalho, o que me dava tempo de escutar todo o barulho e sentir todo o silêncio que amanhã, quem sabe, eu não possa escutar nem sentir mais.
As últimas folgas do trabalho foram regadas de uma preguiça sem pecado, onde eu me dividia entre comer pão e biscoitos ou deitar-se na cama para rir com minha mãe, mas isso é outra página de metáforas Kafkianas.
Quando eu olhava para os fogos com uma taça de champagne na praia da Pipa, na virada do ano e pedia por paz, por uma serenidade ímpar, não imaginava que o meu signo pudesse acalmar-se a tanto.
Às vezes, eu fico meio perdida ainda, mas há dias que eu só consigo ver um novo propósito em tudo.
Bom fevereiro pra mim e pra você!