11.12.11

Não quero choro nem vela, quero uma fita amarela..

Há exatamente um ano atrás eu estava no meu trabalho escrevendo sobre minhas metas para o próximo ano. Decidira que desta vez, minha lista de desejos fosse diferente. Ao invés de metas para todo o ano como permanecer com, no máximo, 59kg - estou com 64 -, estudar mais, juntar dinheiro, viajar para a China; mudasse para metas com prazos menores, como: em janeiro vou fazer academia, vou à praia, vou sair mais com as amigas da CAP,  não sairei com o ex.

A primeira meta que havia escrito foi traída no primeiro segundo de 2011, e ela consistia em não continuar vivendo com o passado. Daí a virada do ano foi tragada com uma embriaguez inadequada, uma traição aos meus desejos racionais, uma disritmia cardíaca devido ao excesso de red bull, e o primeiro dia amanheceu enquanto eu estava deitada num chão coberto de folhas secas conversando sobre relacionamentos que hoje se transformaram em (...).

Decidi começar a fazer meus planos para 2012 

Refleti sobre esse ano que está acabando. Que só faltam 20 dias para tentar enterrá-lo e como a maioria das pessoas deve imaginar esse não foi um bom ano para mim. Na verdade, foi o pior. Porém, o que mais me trouxe experiências, que mais me fez amadurecer, que mais me fez crescer diante o mundo, o ano em que eu tive que escolher a mim mesma, porque sem, eu não iria conseguir sobreviver com tamanha solidão. Eu perdi pra caramba. Perdi o homem que eu mais amo, perdi meu pai. Certamente tive o pior dia da minha vida, ao menos até agora, que foi o ver imóvel enquanto eu pedia baixinho deitada minha cabeça em seu peito tentando escutar o seu coração pulsar, para ele ficar, mas ele não pôde se levantar para me abraçar. E a partir desse momento, eu tive que me adaptar a estar muito sozinha para conseguir segurar quem poderia cair. Eu passei quase nove meses para conseguir começar a ver suas fotos, para conseguir falar sobre ele, porque tudo parecia um sonho. E sim, isso está acontecendo agora. 

Passei um mês sem beber, passei seis meses chorando todos os dias enquanto todos dormiam, mas acordava rindo porque já bastava eu estar sofrendo pelos outros.

Fiz amigos novos, uma pessoa, inclusive, que eu convivi por três anos e que agora, no finalzinho do ano, estamos reconhecendo parceria recíproca e uma grande sementinha brotando. Uma amizade que eu sei que será forte, e há muito tempo não descobria algo novo.

Passei meses sem me apaixonar, e estou vivendo um deles. Pintei meu quarto novo de branco e preguei desenhos, livros, mapas, fotos em todas as paredes para tentar colorir ou parecer que havia algum trânsito em algum lugar da minha vida. Não, eu não morri de tristeza todo o ano, eu morri de alguma coisa que eu nem sei explicar o que significa, porque eu tive alguns dias muito felizes, como as viagens que eu fiz, como as noites de música, de leitura, como as noites de riso. Mas eu morri de saudade todos os dias, e houve dias que eu me perguntava para quê acordar, mas esses dias já passaram, e por isso eu estou aqui. Enquanto as pessoas compartilhavam a face rasgada de um cachorro doente no facebook só para dizer que sente muito por ele ou sobre o jogo de futebol, a luta de UFC ou sobre nada interessante, eu não conseguia postar uma foto com o meu pai, e sim, eu escutei em um belo dia uma crítica sobre isso.

Mas muitas coisas mudaram.

Não a saudade, não a tristeza da perda. Nem a angustia que dá ao ver uma foto que ainda não havia visto ou de achar um e-mail que eu havia enviado. Isso eu sei que nunca passará. Eu passei dias e dias dormindo por dezesseis horas e ninguém sabia. Eu passei dias e dias dormindo duas horas por dia, e ninguém sabia. Eu passei meses e meses sem falar, e ninguém sabia. Mas agora eu durmo oito horas por dia.

E por que eu estou escrevendo isso?

Nem eu sei. Talvez porque agora eu possa dizer que me sinto bem. Que me sinto mais inteligente, apesar do descaso, que me sinto mais humana, apesar da impaciência (muita impaciência), que me sinto mais mulher, apesar das brincadeiras leigas e apesar da forma que me comporto quando bebo.

Eu acredito seriamente na minha força para fazer com que a mudança de uma data possa mudar todo o meu ano, porque deste, eu quero fazer um dos melhores. Dessa forma, eu estou organizando o ano novo para passar com minha família. Não irei de calcinha vermelha porque pareço conseguir ficar mais contente quando me amo ao me olhar no espelho do que quando alguém desinteressante se interessa por minha bunda, então vou de amarelo porque preciso de roupas e cursos novos. Quero uma mesa com uvas, quero pular as sete ondas e quero beber champanhe. Quero vestir branco com dourado, porque quero que o ano brilhe por doze meses. Claro que meu primeiro pedido será um ano sem perdas irremediáveis, um ano sem ócio, um ano sem drama. Ok, já são três. Mas tenho direito a sete.
O último, com a mesma importância do primeiro será de um ano com mais fé.


Então, eu realmente desejo enterrar o que me causou dor e deixar guardado na minha mais colorida caixa toda a experiência desse ano que está acabando, graças a God.

Hoje cortei meu cabelo, joguei no lixo várias lembranças materiais inúteis, doei inúmeras roupas que não uso mais e em janeiro, mais uma vez, mudarei de quarto, comprarei móveis novos e a casa será toda pintada de branco. Amém.

Para você que não sabe: eu amo branco, eu não corrigi esse texto e eu estou faminta.
Então, Feliz an... hm...
Fé na sua lista!



E com a sua própria metade se faz o resto da felicidade

30.10.11

é tudo ilusão

O tempo vai passando rápido demais. Os dias de repente mudam seus primeiros números, as semanas se desfazem como doces brincando na minha saliva, ou é minha saliva que brinca com os doces. Tudo se torna ainda mais relativo. Ou se está vivendo para morrer ou se está morrendo para viver. Como sentir o calor profundo, o veneno estridente, uma dor tremenda e uma alegria profana, um preenchimento total, estar no inferno e no céu ao mesmo tempo, dividindo os mesmos amores, as mesmas dores, o mesmo gozo em estar livre e presa dentro de si mesma.

Viver outubro foi bastante difícil porque eu nem ao menos sabia que já era outubro ou que ainda não havia passado outubro, e hoje já é 30 de outubro. Viver foi se tornando bastante difícil depois que eu comecei a comprar sutiãs maiores, depois que eu comecei a precisar de dinheiro todos os finais de semana, depois que eu descobri que eu não sabia como se deveria viver depois que se descobria que era difícil pra caralho sobreviver e ainda ter que viver. Mas viver me trouxe prazeres bem suculentos, de dar água na boca. De encher de lágrimas olhos de quem ainda nem nasceu. Aquela lágrima lambida com um gosto doce que se desfaz mais uma vez em minha saliva, ou eu que me desfaço nela, vai saber!

Daí que chega mais um final de um mês que mais pareceu uma toalha esquecida detrás da porta do banheiro inútil da sua casa, porque eu nem ao menos lembro bem o que fiz de bom nesse mês; não sei se posso chamar bastante cerveja, jazz, calor de muitos humanos e ao mesmo tempo nenhum de algo significante para minha existência, mas não sei se há coisa melhor a se fazer do que isso, porque me deu tanta alegria enquanto estava sendo vivido. Porra, isso foi mesmo muito significante para minha vida porque foi muito bom dançar todas essas noites. E mais uma vez, um inferno de céu ou um céu de inferno. Até que eu chegue em casa depois de um final de semana gostoso de se viver e encaro de frente a preguiça de continuar. Será que gastei toda a minha energia nesse céu quente e úmido?

Então, como todo texto tem que ter uma conclusão, e segundo algumas besteiras - ou coisas muito importantes - que li por ai sobre leituras, um autor sempre tem que dar a solução no último capítulo. Posso dizer que a minha solução para mim mesma poderá ser o sol que vai mais uma vez, assim como eu, atrever-se a nascer cheio de energia, cobrir a metade da Terra de uma chama de vida que te mostra que para estar no inferno, no mínimo, você ainda tem que caminhar arduamente para perto dele, então agradecemos todos porque ele nos diz numa força gritante:

Você está no céu, querida!




"I'm high and I'm happy and I'm free"




6.10.11

À R.M.





"Tudo que acontece, quando importante, é assim como uma contradição. Até aparecer aquela para quem escrevo isto, eu imaginava que em algum lugar por aí, na vida, como dizem, estava a solução para tudo. Pensava, quando dei com ela, que me apoderava da vida, agarrava uma coisa que podia morder. Em vez disso, perdi completamente o controle da vida. Procurei alguma coisa a que me ligar - e não encontrei nada. Mas ao procurar, no esforço de agarrar-me, ligar-me a algo, perdido como estava, ainda assim encontrei o que não procurava - eu mesmo. Descobri que o que desejara a vida toda não fora viver - se o que os outros fazem se chama viver - mas me expressar. Percebi que jamais tivera o mínimo interesse em viver, mas só naquilo que faço agora, uma coisa paralela à vida, ao mesmo tempo parte dela, e além dela. O que é verdade me interessa muito pouco, mesmo o que é real; só me interessa o que imagino ser, aquilo que sufoquei todo dia para viver. Se eu morresse hoje ou amanhã, não teria a menor importância para mim, nunca teve, mas o fato de mesmo hoje, após anos de esforço, não poder dizer o que penso e sinto, é algo que me incomoda, me exaspera. Desde a infância me vejo no caminho desse espectro, sem desfrutar nada, sem desejar nada além desse poder, dessa capacidade. Tudo o mais é mentira - tudo que já fiz ou disse que não levava isso em conta. E isso é, sem dúvida, a maior parte da minha vida."
Miller; Henry - Tropic of Capricorn


À R.M.






3.10.11

Joãos.







Quatro ligações perdidas me acordaram nesta segunda-feira quente. Me acordaram daqueles sonhos.
Não, desta vez não foram os sonhos eróticos!
Eu voltava pra lá, para as águas vermelhas, o céu azul. Para a natureza viva, verde. Pra reencontrá-lo. Quando eu cheguei:

"João está morando em Seabra, lá fora ele estudar."

Eu acabara de viajar quilômetros e quilômetros em busca de João, e lá se foi João estudar?
A cidade estava coberta de uma tarde tranquila, batizada por um céu azul-e-branco. Mas João fora embora.
Como a cidade mudou tão de repente com a ausência de João.

Eu acordei e mais uma vez, obviamente, João perdurou em meus pensamentos até a hora do suco de amendoim com guaraná. 

Em mais um começo de noite despretensiosa, carregada de uma preguiça por finais de semana prolongados e muito carboidrato, eu vou em busca melancolicamente de lembranças das antigas viagens. Buenos Aires, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Lençóis, Salvador, João Pessoa, Campina Grande, Sagi, Patos, Brasília, Goiânia... Quantas cidades, quantas pessoas, quantos Joãos.

Me deparei numa página de um amigo porteño. Ele acabara de migrar para o sul. Lá estava Teófilo em General Roca. Mas Teófilo era quase um pedaço do Art Factory. Mas Teófilo fora embora.
E o Art Factory não parecia mais o mesmo sem Téofilo.

Uma pessoa que eu não sei o nome que morava em um lugar que eu não sei qual era, que me cantou algumas dezenas de músicas brasileiras com sotaque espanhol, colocou em seu toca cd's Los Hermanos e desapareceu. 

Tara está na Inglaterra. 

Larissa fez a mesma coisa, largou tudo e todos para fundar um brechó numa cidade com menos de 10 mil habitantes. Mas eu conheci Larissa quando ela já mudada estava. Depois de ter ido embora.

Deitei-me na poltrona da varanda, olhei pro céu e num suspiro como quem tem que apagar as velinhas do seu bolo de aniversário, me fiz mais uma vez a mesma pergunta (e o mesmo desejo):

Quando eu poderei ir também embora?









28.9.11

Insensibilizar

As lembranças daquelas noites meio frias. As lembranças de um quarto quente. As lembranças do silêncio, do grito, da dor, do prazer. A lembrança do chinelo amarelo encostando-se no mar, branco. Eu não tenho mais amor, não tenho a quem amar. O que existe em mim além de um metro e alguns centímetros de vazio, de solidão, de lembrança? Do que ainda nem me veio.
Uma pêra sem doce. Poxa, eu nem ao menos consigo escrever. Um coração sem poder amar além, guarda-se aquém, num vazio enferrujado. 
E nem a tristeza me seduz, porque sentir gasta uma energia sem fim.
Insensibilizar, mas eu prometo, foi tão sem querer.
A culpa da luz, que não mudou de cor, do vento que não me chamou. Do banco de algum carro que a tempo não me fez descer correndo as escadas enquanto a chave ficava presa na porta. 
Poxa, que falta de amor. Será que ainda existe mesmo alguém para amar?
Insensibilizar.
À lembrança, manda um abraço forte.
Ela vai chegar.






8.8.11

E ainda estão rolando os dados...


Sem muito o que postar dentro de um começo de agosto gostoso de se viver, deixo algumas fotos cheias de saudade. 











Fim!

30.7.11

Egeu


22h42min – Aeroporto de Salvador / BA

Eu queria um subway de salame com pepperone, gostaria de saber o preço da coca-cola. E assim perguntei. Não obtive resposta alguma da negra bahiana que parecia pouco se importar em dar uma resposta que estava escancarada do lado esquerdo do meu rosto. R$ 3,70 era o preço do refrigerante. Mas e se eu não enxergasse, ela continuaria a não me responder pelo simples fato da resposta estar lá?

Se eu não enxergasse, eu não conseguiria ter visto naqueles últimos oito dias a cor azul da água que o sol refletia, nem águas vermelhas sendo jorradas de uma pedra colorida, nem sorrisos sinceros, não teria visto olhares, bocas, dedos, não teria visto os meus ouvidos escutarem o barulho das cachoeiras, do pelourinho, o barulho do silêncio, das noites gritantes de frio. Não teria visto o meu corpo arrepiar-se por estar sendo aquecido por um secador elétrico debaixo das cobertas. Estava muito frio.
Não teria visto o que por aquele tempo eu poderia chamar de vida.
Eu agradeci a Deus por tudo. Sou mesmo bastante abençoada.

“Eu perdi o ônibus”
“você também perdeu o ônibus?”
(risos)

Raul Seixas cantou nos meus ouvidos por exatos três dias:

Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir o som dos meus passos. Cada vez que eu me disperso de uma pessoa, pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez.

Eu não gostaria de me despedir de Lençóis e correr o risco de as pedras que firmam o chão desta cidade não mais poderem sentir o cheiro de areia molhada do meu chinelo laranja, com três corações. Não gostaria de me despedir da comida dos restaurantes, nem da cerveja da fazendinha, nem das cedas. Não gostaria de me despedir da barba mal feita, do egeu, do todinho antes de dormir, da reverberação da casa. Não gostaria de despedir-se dele.

“Perdi o horário dos ônibus por exatos três dias.”

Foi como, como dizia Skank, uma canção de amor inabalável.
Entre sete. Entre dois. Entre nós. Entre o mundo.
E eu ainda espero que este chão possa sentir os meus dedos calejados de desejo e leveza.
Um agosto intenso, feliz. E todo amor que houver.

Com paixão,
E.











12.7.11

As sementes quando crescem.


“Eu queria saber escrever”

“Por quê?”
“Para que eu pudesse descrever essa noite, poder relatar cada detalhe. Escreveria umas cinco folhas.”

Estavam deitados na rede vermelho sangue e o céu estava azul marinho. Deveriam ser onze horas da noite e ele estava programaticamente cheio de estrelas.

Eles estavam cheios de estrelas.

Ele olhava fixamente nos olhos dela algumas vezes e tentava entreter-se consigo mesmo, falava sobre seus amigos bêbados, as pessoas que conhecera ultimamente, a nova roupa de baixo que havia comprado, tudo numa tentativa nunca falha de fugir de si mesmo, daquele furacão de ser humano que tentava habitá-lo, mas que era complexo e triste demais para ser concebido. Ela, para não congelar-se numa pele que não era sua, agia da mesma forma de sempre. Deixava as lágrimas escorrer fielmente sobre os seus lábios enquanto seus olhos estavam fixos na quantidade mínima de estrelas do lado esquerdo do céu, por causa do excesso de luz da Avenida Ayrton Senna.

“Por que você está chorando?”
“Eu não estou chorando, é apenas a posição do rosto”
“O que você está sentindo?”
“ Eu estou sentindo como se estivesse sentada na beira de um rio e estivesse colocando um barquinho para ir embora.”
“ Posso sentar com você?”
“Eu não consigo ver mais ninguém lá. O sol está se pondo”
“ E quando o sol nascerá outra vez?”
“Quando o barquinho tiver desaparecido por completo”

Ele começara a ficar com medo. E ela só queria que ele se entregasse ao medo para que pudesse nunca mais senti-lo, para que pudesse voltar a ser quem ela tanto quis que ele fosse nos últimos dez meses. Mas ele era alguém difícil de se entregar.

“Eu queria confiar em você”
“Eu queria que você me desse paz”

“Hotels were closed
And the airport was clean
I was stranded alone
In my southwest dream
Such a pretty boy”

“Daqui a alguns anos, eu posso estar dirigindo e vou escutar essa música, e lembrarei de você, lembrarei desse dia, da gente dançando na sala, da vodka, da roupa, da rede, do cheiro.”

“Não se dispersa de mim mais uma vez”

Antes de dormir, ela observou o quanto ele parecia um anjo dormindo, o quanto esse era o único momento em que ela se sentia segura com ele, porque já passava de meia noite e os monstros que os habitam já deveriam estar dormindo também. Seria difícil acordar e ver que tudo aquilo não era real o suficiente para durar dois ou três dias. Adormeceram.

Ele só precisava confiar nela
Ela só precisava de paz.

“Eu amo você.”
“Eu também amo você.”
Dez/2010

5.7.11

Melancia.



 Este post vai dedicado as férias gostosas que todos merecem e que eu estava precisando a muito tempo. Nos quais eu engordo, rio, agradeço à Deus e reconheço que o ser humano, como diz Chris MacCandless, só sente a real felicidade quando compartilhada. Eu sei que quando agosto chegar e a realidade cair como quem deseja sobremesa, tudo mudará. Beijos, E.